Valterci Santos/Gazeta do Povo
Margarita Díaz: “Os estudantes afirmam que a escola deveria ser um ambiente mais acolhedor com a diversidade” Escola também é hostil com os homossexuais
Pesquisa mostra que os professores não sabem combater a homofobia. O resultado é abandono escolar, baixa auto-estima e depressão
Publicado em 28/09/2010 | Paola Carriel - Fale conosco
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Direitos
Demandas da população LGBT:- Intensificar e implementar no serviço público políticas de combate à discriminação por orientação sexual.
- Inserir no currículo da educação básica a discussão a respeito do tema sexualidade, considerando as questões de gênero e diversidade sexual em uma perspectiva dos direitos humanos.
- Implementar, fortalecer e ampliar as ações de prevenção e promoção da saúde, bem como assistência à doenças sexualmente transmissíveis (DST), HIV e aids de forma integral e equânime para a comunidade LGBT.
- Aplicar a legislação vigente, respeitando os princípios da igualdade, da dignidade e da não discriminação.
- Construir uma rede de proteção para o jovem LGBT, primando pelo direito à convivência familiar, à sexualidade, à saúde reprodutiva, à inserção escolar, ao trabalho e ao culto religioso.
Fonte: Relatório final da 1ª Conferência Estadual LGBT do Paraná.
Políticas
Muito trabalho pela frenteA Secretaria de Estado da Educação (Seed) argumenta que vem criando políticas nos últimos anos para combater a discriminação nas escolas mas, apesar dos avanços, reconhece que ainda há muito trabalho a ser feito. Há dois anos foi criado o Departamento da Diversidade, responsável pela formação continuada dos docentes. Cerca de 9 mil professores já passaram por algum processo de formação, mas há na rede estadual cerca de 85 mil profissionais. Para Dayana Brunetto, coordenadora do núcleo de gênero e diversidade da Seed, já há ações estruturadas e conquistas importantes, como a implantação do nome social para travestis e transexuais.
Serviço
Curso Igualdade de Gênero na Escola: enfrentando sexismo e homofobia. Voltado a profissionais da educação, com início em 2 de outubro, gratuito. Mais informações pelo email igualdadedegenero.ppgte@gmail.com.
Curso virtual sobre Advocacy e Prevenção do HIV/Aids. Voltado a homossexuais, de 11 de outubro a 10 de dezembro. Inscrições até 7 de outubro. Formulário disponível no site www.asical.org/br
Mais informações interagir@cepac.org.br.
Pesquisa divulgada ontem mostra que a escola é um ambiente hostil com a população de lésbicas, gays, travestis e transexuais. Os professores não sabem como trabalhar a diversidade sexual, nem combater a homofobia. Como consequência, os meninos e meninas têm baixa autoestima, queda no rendimento ou abandono escolar e depressão. Foram ouvidos 1,4 mil professores, gestores e estudantes em 11 capitais brasileiras durante o ano de 2009. O estudo é uma iniciativa da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Reprolatina e Ministério da Educação.
O estudo tem o objetivo de tirar do papel políticas públicas já existentes para combater o preconceito contra a população LGBT. “O Brasil Sem Homofobia é um programa federal já em curso. Mas ele não chega até a sala de aula”, argumenta a pesquisadora responsável pelo estudo, Margarita Díaz. A fala dos professores mostra que a orientação sexual dos adolescentes é “tolerada” quando não há uma demonstração clara da homossexualidade, por exemplo. Os jovens que mais sofrem com a discriminação são aqueles que assumem a orientação. No grupo que mais sofre estão travestis e transexuais. “Para a escola, é como se essa população não existisse”, conta Margarita.
Os pesquisadores presenciaram cenas de violência física contra jovens homossexuais em que professores e inspetores estavam próximos e não tomaram nenhuma atitude. Existem relatos de suicídios de alunos vítimas da discriminação. “Há um consenso de que existe preconceito e que os docentes não sabem lidar com isso. Em geral, associa-se a homofobia somente com a agressão física e não com as demais manifestações”, afirma Margaríta. Os educadores alegam falta de tempo e preparo para não trabalhar questões relativas à diversidade. Há ainda receio de “incentivar” a vida sexual dos alunos.
Além das entrevistas e grupos focais, os pesquisadores analisaram o ambiente escolar. Em nenhuma escola de Curitiba, por exemplo, havia qualquer cartaz ou menção aos direitos humanos ou diversidade sexual. “Os próprios estudantes afirmam que a escola deveria ser um ambiente mais acolhedor ao trabalhar com a diversidade”, explica a pesquisadora.
Questão de respeito
Para Toni Reis, presidente da ABGLT, o que o movimento social deseja não é um privilégio no ambiente escolar e sim respeito à diversidade sexual. “Queremos o cumprimento da Constituição Federal, que diz que todos são iguais e não haverá discriminação.” Para mudar essa situação, ele sugere capacitação e apoio aos docentes. Como resultado da pesquisa, foram gerados materiais de apoio que serão distribuídos aos docentes. Segundo Toni, hoje a homossexualidade é crime em 75 países do mundo e em sete é punida com pena de morte.
A presidente do Grupo Dignidade, Rafaelly Wiest, transexual mulher, diz que a pesquisa confirmou na prática o que a entidade observa há anos. “Não queremos que, em função da exclusão escolar, viver à margem seja a única opção de travestis e transexuais”, explica. “Qualquer indivíduo para entrar no mercado de trabalho precisa de qualificação. Essa população não consegue sequer terminar o ensino fundamental.”
Participaram do estudo estudantes do 6.º ao 9.º ano e professores e gestores de escolas públicas de Manaus (AM), Porto Velho (RO), Recife (PE), Natal (RN), Goiânia (GO), Cuiabá (MT), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS) e Curitiba (PR). Os resultados são qualitativos e, portanto, não há porcentuais. Essa é a primeira pesquisa nacional que aborda a homofobia nas escolas curitibanas.
FONTE: Gazeta do Povo
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