A Parada Gay deste ano foi um grande movimento. Sem perder a vibração, o colorido, a irreverência e a festa, a Parada LGBT de 2010 demonstrou densidade e amadurecimento, ganhou força social e, apesar dos eventuais revezes, a luta contra a homofobia declara que ainda pode conquistar muito mais.
A escolha do mote “Vote contra a homofobia, defenda a cidadania” foi acertadíssima, mostrando que a conquista efetiva dos direitos humanos – especialmente o direito à livre orientação sexual – só se dará com uma forte luta contra a velha política conservadora, retrógrada e preconceituosa que prevalece nos legislativos e executivos brasileiros. Com o referido mote, a Parada propagandeou que a cruzada anti homofobia é também parte importante da luta por uma cidadania plena, isto é, contra o racismo, contra o machismo, contra a desigualdade social, por verdadeira democracia, etc. Em tempos de Copa, foi um golaço de um movimento que pretende alcançar ampla legitimidade – e principalmente respeito – no conjunto da sociedade. E essa marcha de conquistas parece estar firme em sua rota positiva.
Por convite do meu camarada Dário Neto e do deputado estadual do PSOL Carlos Giannazi pude acompanhar, poucos dias antes da Parada, a cerimônia de posse do novo Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual de São Paulo. O Dário foi um dos novos conselheiros eleitos, coroando um trabalho que vem desenvolvendo há muito tempo e que tive oportunidade de acompanhar quando fui membro do Diretório Central dos Estudantes da USP e ele um dos principais militantes do grupo Prisma, coletivo de debate sobre diversidade sexual na universidade. Vê-lo empossado conselheiro ao lado de outros representantes gays, lésbicas, travestis, transexuais, bissexuais e transgêneros em um espaço tão conservador e afastado das mais importantes necessidades sociais como Câmara Municipal foi um bom exemplo de que, embora difícil, a luta LGBT tem conquistado importantes espaços e visibilidade para além da Parada.
Aquela emocionante cerimônia me fez lembrar de uma importante lição anti-homofobica que tive em um encontro de sem-terras que participei há alguns anos em Minas Gerais. Entre os militantes estava um gay que, entre acalorados debates políticos sobre as injustiças da estrutura fundiária brasileira e a necessidade da Reforma Agrária, ouvia calado a um punhado de piadinhas homofóbicas, algumas fortemente insultantes inclusive. Ao final, no momento de expor suas ideias, o referido militante fez uma apresentação bastante politizada, concordando com os relatos sobre a condição opressora com a qual são tratados os camponeses neste país. E depois, de maneira didática, concluiu: “Mas se vocês querem mesmo saber o que é opressão, tentem imaginar o que é ter que se olhar no espelho todos os dias, saber que você é daquele jeito e a sociedade dizer que você não deveria existir, que você é uma aberração, que tem que se negar, ser invisível…”
Não são poucos os que, por exercerem livremente sua orientação sexual em uma sociedade onde ainda prevalece a hipocrisia e a demagogia, têm que sobreviver pelos cantos das cidades, morando nas ruas, em albergues, em situação miserável, com saúde debilitada, abandonados pelas famílias e pelo Estado. O auditório da Câmara Municipal e as ruas tomadas por muitos desses ‘invisíveis’ defendendo o respeito aos direitos humanos do segmento LGBT foram fortes exemplos e apontaram o caminho: a verdadeira liberdade conquista-se nas ruas com engajamento e ações políticas. Reafirmamos: “Lute contra a velha política, vote contra a homofobia, defenda a cidadania!”
Maurício Costa*