sábado, 11 de outubro de 2008

Justiça autoriza casal gay a adotar irmãs em Recife

Deu na Folha… e a gente acredita e divulga:
O Juizado da Infância e da Juventude de Recife (PE) deu sentença favorável ao pedido de adoção de duas irmãs -de cinco e de sete anos- feito por um casal homossexual masculino que vive em Natal (RN).
Embora ainda envolto em “procedimentos diferenciados” não deixa de ser um ganho. Principalmente pelo fato de a adoção ter sido feita pelos parceiros e não por somente um dos envolvidos, como comumente é feit
o, gerando assim um fato inédito no país.
“A Constituição diz que não pode haver discriminação de sexo, cor, raça nem qualquer outro meio. E o ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] afirma que é dever do Estado e de todos proteger integralmente a criança”, diz o juiz Élio Braz Mendes, responsável pelo julgamento do caso. O juiz ainda afirmou que sua decisão “nesse caso, surgiu como certeza de que isso era o melhor para as crianças”.
Ao mesmo tempo, afirmou que “Não estou reconhecendo a união civil dessas duas pessoas, estou dizendo que elas constituem uma família afetiva capaz de exercer o poder familiar, dar guarda, sustento e educação.”
Os parceiros (que não tiveram os nomes divulgados) procuraram o Juizado de Recife e passaram por avaliação psicológica para realizar o cadastro que disponibilizou seus nomes para a adoção. Em poucos meses receberam a proposta para adotar as irmãs, abandonadas pela família biológica e vivendo em um abrigo.
Levadas a Natal, as duas irmãs passaram um ano com os novos pais, em um período de convivência familiar, com o acompanhamento pela Justiça. Para casais heterossexuais, o intervalo de tempo médio de observação é de dois meses.
O Ministério Público de Pernambuco afirmou que não irá recorrer da decisão.


October 11th, 2008 at 9:25pm
Autor: MaxReinert
Blog: No Ghetto
Disponível em:
http://noghetto.hitechlive.com.br/2008/10/11/visibilidade/justica-autoriza-casal-gay-a-adotar-irmas-em-recife/

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Transformista é eleito vereador em Salvador


Salvador elegeu primeiro candidato que se declara homossexual para ocupar uma cadeira na câmara de vereadores.

Leo Kret do Brasil, candidato do PR, que ficou conhecido ser o dançarino de um grupo de pagode nas festas de Salvador, foi o quarto postulante a vereador com melhor votação na capital da Bahia.

Veja o resultado das eleições para vereador em Salvador

Com 12.861 votos, Leo Kret do Brasil ocupará no inicio de janeiro uma das 41 cadeiras na Câmara Municipal de Salvador. Durante sua campanha ele prometeu lutar pelos direitos da comunidade gay.
Leo Kret nas ruas de Salvador (Foto: Genilson Coutinho/VC no G1)
As informações da página VC no G1 foram enviadas por um leitor do G1. Quer participar também? Clique aqui e saiba como. (Genilson Coutinho Internauta, Salvador, BA)
Acesso em: 06/10/2008

"As principais conquistas LGBT foram feitas na prefeitura Serra", diz Alckmin


Geraldo Alckmin iniciou sua vida política aos 24 anos quando foi eleito prefeito de Pindamonhangaba. Ao mesmo tempo em que exerceu o cargo, finalizou o seu curso de medicina. Alckmin fez parte do grupo dissidente do PMDB que, junto com Mário Covas e FHC, fundariam o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).A sua vida política ganharia grande notoriedade ao assumir o cargo de vice-governador na chapa de Mario Covas. Na metade do segundo mandato, Covas viria a falecer em decorrência de um câncer. Geraldo terminaria o mandato e ainda seria reeleito. Em 2004, Geraldo disputou a presidência da república com Lula e amargou uma derrota. Este ano, o candidato tucano disputa a prefeitura de São Paulo em meio a muita polêmica por conta de dissidentes do PSDB que resolveram apoiar Kassab. Em sabatina da Folha, Alckmin disse que essas pessoas "trabalham pela desconstrução do PSDB". No dia 3 de setembro, Alckmin surpreende a muita gente e comparece ao encontro com a comunidade LGBT, onde firmou parceria e disse que depois poderia ser cobrado, além de dizer que teve muito orgulho de ter assinado a Lei Estadual Anti Homofobia. Deixou claro também que, em uma possível gestão, a "Parada será mais que um orçamento na prefeitura". A seguir, você confere entrevista exclusiva que Geraldo Alckmin concedeu ao A Capa. Quais suas propostas para o fortalecimento da CADS?Vamos fazer dotação orçamentária própria para a Parada do Orgulho - um evento oficial da Prefeitura, cujo orçamento hoje é vinculado ao orçamento da CADS. Com isso, ampliaremos as atividades de CADS, incluindo nas periferias da cidade. Como avalia a atual gestão no que diz respeito às políticas destinadas à população LGBT?As principais conquistas da comunidade LGBT dentro da atual gestão foram realizadas quando o governador José Serra (PSDB) ainda era prefeito: a criação da CADS, do Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual e do Centro de Referência em Direitos Humanos de Prevenção e Combate à Homofobia. Nada de relevante foi feito após, apenas uma continuidade do que estava dando certo a partir de uma política social implementada pelo PSDB.O atual prefeito, Gilberto Kassab, vetou na íntegra um PL que previa sanções no âmbito do município paulistano às atitudes/ataques homofóbicos. O que pensa a respeito?O PL foi vetado sob a alegação de possíveis questionamentos de inconstitucionalidade. Entretanto, as distorções deveriam ter sido corrigidas com vetos parciais, para que todos os esforços e pleitos não tivessem sido em vão. O meu governo não poupará esforços para aprovar o PL 359/2007, que trata sobre a mesma questão. É a favor de se instituir na grade curricular das escolas municipais o ensino da diversidade sexual?Vamos capacitar professores para estarem preparados para prevenir e agir em casos de discriminação e em respeito à diversidade. Para os alunos das EMEFM (Ensino Fundamental), ampliaremos as ações que visam a prevenção das DSTS, gravidez precoce e respeito à diversidade. A cidade de São Paulo tem sofrido ultimamente com inúmeros ataques homofóbicos. Nesse sentido, há alguma proposta para diminuir tais ocorrências? Como Governador, sancionei a Lei 10.948/01, que pune o preconceito relacionado à orientação sexual ou identidade de gênero em todo o Estado de São Paulo. Também criei a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, responsável pela prisão de gangues homofóbicas e pelo combate a outros crimes contra LGBTs. Várias gangues homofóbicas foram desmanteladas e presas. Como prefeito, terei mais condições de integrar os órgãos públicos municipais como a GCM - com uma maior capacitação dos seus quadros - na luta contra a homofobia.Se um candidato a prefeitura ou a outro cargo do executivo for homossexual assumido, isso pode ser fundamental para a vitória ou para derrota? A orientação sexual de um político não deve ser fator preponderante para uma vitória ou derrota a um cargo executivo. O que deve nortear uma eleição é seu passado político, de realizações, suas propostas e capacidade de realizá-las.Qual será a postura de uma eventual prefeitura de Geraldo Alckmin em relação à Conferência Municipal LGBT? Uma próxima conferência municipal terá nosso total apoio. Se houver apoio dos Governos Federal e Estadual, seguindo o calendário, ela poderá ser realizada ainda em 2010. Há setores da população LGBT que, por conta da sua ligação com a Igreja Católica, acreditam que o senhor não trataria com sensibilidade real os gargalos das pessoas homossexuais da cidade de São Paulo. Gostaria que o senhor falasse a respeito.Como disse, como Governador, sancionei a Lei 10.948/01, que pune o preconceito relacionado à orientação sexual ou identidade de gênero em todo o Estado de São Paulo e também criei a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância. O PSDB foi o partido que mais fez pela comunidade.
Por Marcelo Hailer 3/10/2008 - 19:14
Acesso em: 06/10/2008

"Nosso foco será o combate à homofobia em suas diversas manifestações", diz Soninha


Candidata à prefeitura de São Paulo pela primeira vez, a vereadora Soninha Francine (PPS) é aliada reconhecida do movimento LGBT, sempre é vista e comparece a eventos da comunidade como a Caminhada Lésbica, Conferência Municipal e ENTLAIDs.Em entrevista exclusiva, Soninha apresenta ao A Capa suas propostas ao LGBTs.Quais são suas propostas para o movimento LGBT?Na área de cultura, promover mostras de filmes e de teatro e festivais literários com temática LGBT. Garantir a continuidade de ações desenvolvidas pela Coordenadoria de Assuntos da Diversidade Sexual, como a Virada LGBTT e a Semana de Visibilidade Lésbica. Na educação, trabalhar com a diversidade sexual nas escolas, por meio de oficinas, publicações. reuniões, seminários e atividades culturais. Nosso primeiro público serão os professores e demais profissionais da Educação. Depois, alunos e suas famílias. Incluir os Jogos da Diversidade como parte do calendário oficial da cidade de São Paulo. Promover ações de combate à discriminação e ao preconceito nos esportes em todos os estabelecimentos voltados para a prática esportiva no município. Capacitar todos os funcionários que trabalham com atendimento ao público (na Saúde, Assistência Social, Subprefeituras, GCM, etc.) Sensibilizar os funcionários públicos municipais sobre as situações de preconceito e discriminação, inclusive nos casos de homofobia velada. Garantir que travestis e transexuais sejam chamados pelo nome que escolheram em todos os serviços públicos do município. Quanto a Parada Gay, quais serão seus objetivos?Dar apoio e suporte institucional de tráfego e segurança para a Parada. Promover e divulgar. Trabalhar em parceria com a Associação da Parada do Orgulho LGBT. No turisimo, garantir a hospitalidade no trato com o turista LGBT que visita São Paulo em todas as épocas do ano. Distribuir guias da cidade de São Paulo voltados para o segmento. Dar apoio a iniciativas que promovam o turismo LBGT na cidade.Qual sua opinião sobre a 1ª gestão da CADS?A criação da CADS em si foi uma resposta positiva à um desejo do movimento LGBT da cidade. Dentro do seu campo de atuação e com as devidas proporções (já que não tem o status a de uma secretaria), a CADS se saiu bem, promovendo eventos, oficinas, produzindo material especifico para a população LGBT, organizando a primeira conferência LGBT do município e acolhendo demandas do movimento das Trans. Destaque para a criação do Centro de Referência de Direitos Humanos. O atual prefeito, Gilberto Kassab, vetou na íntegra um PL que previa sanções no âmbito do município paulistano às atitudes/ataques homofóbicos. O que pensa a respeito? Kassab vetou o projeto alegando razões técnicas - mas sabemos que a convicção política pode levar a esta ou aquela interpretação sobre os aspectos técnicos. Tomamos todos os cuidados, na elaboração do Substitutivo, para respaldar o projeto da legislação vigente. Na ocasião, fizemos na Câmara Municipal um ato com representantes do movimento contra o veto e no mesmo dia apresentamos um novo projeto com o então vereador Carlos Gianazzi, corrigindo os problemas alegados.Há alguma proposta de seu governo para diminuir as ocorrências de ataques a gays?Dar continuidade às ações de capacitação da Guarda Civil Metropolitana. Ampliar o atendimento oferecido pelo Centro de Referência em Direitos Humanos de Prevenção e Combate à Homofobia. Trabalhar em parceria com a Delegacia de Crimes de Intolerância, com o Centro de Referência da Diversidade e outras instâncias representativas de defesa dos Direitos Humanos. Apoiar organizações da sociedade civil, que trabalhem com a defesa dos Direitos Humanos para LGBTs. Implementar Programa Municipal de Combate à Homofobia em todos os bairros do município. É a favor de incluir no conteúdo programático das escolas municipais a educação à diversidade sexual?É fundamental pensar em políticas de educação para promover o respeito à diversidade, e isso inclui a escola - mas vai além. É preciso capacitar os servidores públicos e fazer campanhas junto à sociedade de modo geral, por meio de cartilhas, cartazes, cursos, palestras, oficinas, eventos culturais (festivais de teatro e cinema) e esportivos e dos meios de comunicação, para que se combata a desinformação, o preconceito, a discriminação e a violência. Assim, não se trata exatamente de incluir no "conteúdo programático das escolas", mas incorporar como política educacional em vários níveis. Fora a CADS, você tem alguma proposta no sentido de criar uma Secretaria, ou coordenadoria destinada aos LGBT? Não. Mas melhoraria as condições da CADS com mais recursos orçamentários para ações educativas e divulgação de suas atribuições, dentro da administração e junto à sociedade de modo geral; a criação de mais alguns Centros de Referência LGBT pela cidade e o aprimoramento das formas de contato com a prefeitura de modo geral - por telefone, internet e pessoalmente nas Subprefeituras. Em sua opinião, se um candidato a prefeitura ou a outro cargo do executivo for assumidamente homossexual, isso pode ser fundamental para a vitória ou para derrota? Infelizmente, pode. Mas, se fosse o meu caso, eu correria o risco. Você participa ativamente dos encontros e palestras ligadas as comunidades LGBTs. Como você vê a postura de políticos que, em véspera de eleição, organizam comissões em prol do movimento e nunca comparecem nas reuniões.Pode ser oportunismo, mas a aproximação com o movimento, mesmo que se dê com "segundas intenções", poderá ser de proveito do próprio movimento, que poderá se tornar mais visível, reafirmar suas reivindicações e propostas e cobrar compromissos depois. O movimento está sendo cada vez mais levado em conta na pauta dos políticos "convencionais"; já há comissão lgbt em quase todos os partidos (o PP não tem) e a própria frente parlamentar LGBT no Congresso Nacional (anos atrás, seria inconcebível). O movimento está avançando e cada vez mais respeitado. Querer "fazer média" com ele, por incrível que pareça, é bom sinal. Para finalizar, como será uma prefeitura da Soninha no que diz respeito ao segmento LGBT? A cidade que abriga a maior parada do orgulho LGBT do mundo precisa de políticas públicas específicas para esse segmento. Ainda que se deva reconhecer que gestões anteriores dedicaram atenção àqueles e àquelas que são diferentes dos padrões heterossexuais dominantes, criando-se, inclusive, uma coordenadoria específica para tratar de diversidade sexual, acreditamos serem necessárias mais ações voltadas para esses cidadãos e essas cidadãs que se diferenciam por sua orientação sexual ou identidade de gênero. Nosso foco será o combate à homofobia em suas diversas manifestações. Nosso objetivo é promover condições para a melhoria da qualidade de vida para lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros. Para isso, em nosso primeiro ano de governo iremos estabelecer, em parceria com a sociedade civil, metas que se ajustem à realidade do município de São Paulo e que levem mais cidadania, tolerância e respeito para todos os bairros. Queremos também viabilizar, no âmbito do município, a execução de propostas advindas das conferências municipal, estadual e federal LGBT, realizadas no primeiro semestre de 2008. Seguiremos o que está delineado no programa Brasil sem Homofobia e agiremos em consonância com os Princípios de Yogyakarta. Por princípio, trataremos das questões relativas ao universo LGBT levando-se em consideração a transversalidade de situações que perpassam o/a munícipe. Dessa forma, negros e negras, pessoas com necessidades especiais, jovens, idosos e idosas serão contemplados. Também temos consciência de que a situação de classe pode ser fator que desencadeia o preconceito e a discriminação e também necessidade de consideração especial. Sabemos que a discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero tem suas origens no machismo, no heterocentrismo e em uma cultura secular de violência. Por isso, queremos uma política municipal de igualdade, que faça de São Paulo uma cidade aberta a todas e todos. SaúdeGarantir que todas e todos sejam atendidos com igualdade nos serviços públicos de saúde.Implantar unidades especializadas no atendimento de casos específicos das travestis e transexuais, incluindo políticas de redução de danos no uso de silicone industrial ou má administração de hormônios. Promover ações educativas sobre a saúde da mulher lésbica, tanto entre as próprias mulheres quanto entre os/as profissionais de saúde. Dar continuidade a ações municipais de prevenção de DST/Aids entre os HSH (homens que fazem sexo com homens). Fornecer atendimento psico-terapêutico para LGBTs nos serviços municipais de saúde. Trabalhar em parceria com as entidades de classe na área de saúde (Conselho Regional de Medicina, Conselho Regional de Enfermagem, e outros). Desenvolvimento socialCriar grupo de trabalho para discutir a situação de LGBTs em situação vulnerável, especialmente moradores de rua. Garantir que os LGBTs tenham acesso, em condições de igualdade com outros/as cidadãos/cidadãs, aos albergues públicos ou outros serviços municipais. Elaborar um programa de capacitação e de geração de emprego e renda para prostitutas travestis que desejem mudar de profissão. Criar uma cooperativa de travestis para trabalhar na área de prestação de serviços. Trabalhar em par.



Por Diana Carvalho 3/10/2008 - 19:14
Acesso em: 06/10/2008

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

"Tenho certeza de que os LGBTs reconhecem nosso trabalho", diz Marta


A candidata pelo Partido dos Trabalhadores (PT) concorre mais uma vez a uma vaga à prefeitura de São Paulo. Marta foi prefeita da cidade de São Paulo em 2000. Em 2004 foi derrotada por José Serra quando tentava se reeleger. Depois disso, foi trabalhar no governo federal como Ministra do Turismo, e por lá ficou por um ano e meio. Sempre que questionada se iria concorrer à prefeitura paulistana, dizia que não. Porém, as pesquisas pré-eleições mostravam Marta na dianteira das intenções de voto, com praticamente todo o PT paulistano pedindo a sua candidatura, Marta não teve como recusar. Marta Suplicy têm seu nome associado às questões das mulheres, isso porque nos anos 80 apresentava na Rede Globo, o TV Mulher, programa onde falava até de orgasmo. Com a comunidade gay, a candidata se tornou parceira ao apresentar em 1996, quando ainda era deputada federal, o projeto de lei que tornava legal a união civil entre homossexuais. O projeto foi engavetado. A candidata é reconhecida por sempre ter apoiado e participado das Paradas do Orgulho Gay.Em entrevista exclusiva ao A Capa, a candidata fala um pouco sobre o seu primeiro mandato, sobre o que pretende fazer, caso eleita, e de que maneira pretende fortalecer a CADS. Confira a seguir a entrevista na íntegra.Quais as suas propostas para o fortalecimento da CADS? As questões da orientação sexual, identidade de gênero e de respeito a LGBTs envolvem o direito à cidadania e de modo muito direto isso quer dizer acesso e permanência na escola, atendimento eficiente na saúde, emprego e renda, moradia digna, possibilidades de vivência cultural, socialização e lazer. A Coordenadoria dos Assuntos da Diversidade Sexual (CADS) tem de agir para que essas ações fluam. Temos claro que é preciso lançar e implementar o Programa São Paulo sem Homofobia. Seguindo, inclusive, diretriz da Conferência Municipal LGBT realizada em março deste ano. Setores do movimento LGBT paulistano alegam que a senhora não quis bancar a criação da CADS em sua gestão. Outra parte do movimento dizque foram problemas políticos internos que impediram a criação da Coordenadoria. Tal questão até hoje não ficou esclarecida. O que houve de fato? É preciso olhar estas questões dentro do contexto. Assumi em 2001, quando a Parada de São Paulo estava ganhando impulso e a discussão da criação da CADS não estava amadurecida. Não se cria nada numa "penada" apenas. É preciso que funcione e, para isso, é necessário criar entendimentos. É preciso fazer de modo amadurecido. A CADS não foi criada em nosso governo, mas isso não impediu que déssemos efetivo apoio, por exemplo, à Parada de São Paulo. O combate à discriminação foi prioridade na minha administração e muitas ações foram realizadas, sobretudo de sensibilização e formação de profissionais de saúde e educação. Fomos pioneiros em estender os benefícios de pensão a companheiros e companheiras de servidores municipais e abrimos espaço no Orçamento Participativo para a temática LGBT. Avançamos até onde podíamos, e, agora, que estamos num outro momento e contando com a CADS, temos como continuar o trabalho em outro patamar. É importante destacar que vamos contar e somar esforços com um trabalho muito importante, desenvolvido atualmente pelo governo federal, que praticamente acaba de promover a Conferência Nacional LGBT. A realidade da organização dos ativistas hoje é diferente até em nível nacional. Melhorou interlocução, acesso e respostas.Como avalia a atual gestão no que diz respeito às políticas destinadas à população LGBT?Não vejo que tenha havido, nos últimos quatro anos, um planejamento estratégico que apontasse as maiores necessidades e lacunas, muito menos os caminhos a serem trilhados para a superação das mesmas. E isso não é uma questão pontual. Faltou planejamento em praticamente todas as áreas do governo municipal. Muitos eventos foram realizados, mas não algo que "amarre" as iniciativas, que lhes dê consistência. Falta a São Paulo um efetivo Plano de Combate à Homofobia, por exemplo.O atual prefeito, Gilberto Kassab, vetou na íntegra um PL que previa sanções no âmbito do município paulistano às atitudes/ataques homofóbicos. O que pensa a respeito?O prefeito se equivocou ao vetar o projeto. Várias cidades e estados têm leis semelhantes. Para tentar remediar a situação, o prefeito enviou um outro projeto para a Câmara, que está lá, parado. Ou seja, não há prioridade real da administração com a questão LGBT. Por que a base do governo não vota o projeto do prefeito, como vota tantos outros? Onde está o compromisso verdadeiro com a cidadania deste setor da população?É a favor de se instituir na grade curricular das escolas municipais o ensino da diversidade sexual?Minha posição pessoal - mas que pode e deve ser discutida com os gestores e profissionais de educação - é que não adianta aumentar infinitamente a grade curricular. Acho que a preocupação humanista e a consciência da cidadania deveria ser aplicada pela escola desde a mais tenra idade até o término da escolarização. Mas isso tem que ser feito de modo a permear todo o conteúdo e todas as atividades do ensino. Além disso, antes de ser homofóbica, não podemos esquecer, a escola é machista: trata de maneira diferente meninos e meninas, ensina-lhes que têm lugares distintos na sociedade. A escola precisa, isto sim, fazer um trabalho sério com relação a toda diversidade: social, de classes, cultural, geracional, racial, de gênero e sexual. O trabalho é amplo.A cidade de São Paulo tem sofrido ultimamente com inúmeros ataques homofóbicos. Nesse sentido, há alguma proposta para diminuir tais ocorrências? Combater a violência contra cidadãos LGBTs, garantindo integridade física e moral, é dever da Polícia, que está sob responsabilidade do governo do Estado. O que é possível fazer é trabalhar de forma articulada com o Estado e também junto às propostas, hoje discutidas com o governo federal, para aumentar a eficácia das ações preventivas e ao mesmo tempo sensibilizar toda a sociedade. Na Prefeitura, de modo prático, podemos sensibilizar e capacitar a Guarda Civil Metropolitana para ser, dentro de suas atribuições, mais uma aliada no combate à homofobia, por exemplo, ao auxiliar na segurança preventiva e comunitária.Há proposta no sentido de criar uma Secretaria destinada aos LGBTs?A estrutura atual da Prefeitura conta com questões específicas em Coordenadorias, como é o caso das mulheres, da população negra, das pessoas deficientes, etc. Para avançar em resultados, creio que a questão passa hoje menos pela formulação de um órgão e mais na promoção de políticas públicas que tragam resultados efetivos. Já falamos em fortalecimento da Coordenadoria dos Assuntos da Diversidade Sexual (CADS).Em 2000, a senhora esteve no clube noturno A Lôca para fazer campanha, hoje em dia faria novamente tal ato?Estive na casa a convite de uma candidata lésbica a vereadora pelo PT. Não tive e não tenho preconceito ou limitações para ir onde quer que seja para dialogar com a população. Em recente entrevista, o escritor João Silvério Trevisan fez o seguinte comentário em relação a sua gestão no que diz respeito ao segmento LGBT: "O PT na cidade de São Paulo foi um dos mais avessos à comunidade homossexual paulistana, por incrível que pudesse parecer a todos(as) nós que lutamos para eleger Marta. Ambiciosa por uma carreira política de longo alcance, a então prefeita preferiu nos dar as costas e mostrar-se mais palatável aos eleitores evangélicos e conservadores". Gostaria que a senhora comentasse tal declaração. Meu compromisso como mulher e cidadã com causa LGBT é reconhecido e vem desde os tempos da TV Mulher, do meu trabalho como psicóloga, como deputada e continuará sempre. Fizemos muito como prefeita e fizemos muito no Ministério do Turismo, com várias iniciativas voltadas à promoção do turismo deste segmento. Tenho certeza absoluta de que os LBGTs paulistanos reconhecem nosso trabalho.Se um candidato à prefeitura ou a outro cargo do executivo for assumidamente homossexual, isso pode ser fundamental para a vitória ou para derrota? Já disse, em outras ocasiões, que preconceito demora muito para ser desfeito. Estamos hoje lutando para o reconhecimento de que homossexuais são cidadãos que merecem respeito e devem ser tratados com os mesmos direitos e deveres dos que não são homossexuais - a maioria. Mas, o fato é que seu exemplo é hipotético. Não tivemos situação parecida para balizar uma resposta do eleitorado. Prefiro acreditar que hoje se valoriza mais o caráter, a honestidade e, sobretudo, as propostas concretas do candidato ou candidata.Durante a I Conferência Nacional LGBT, em muitos momentos o seu projeto de lei, que prevê a legalização da União Civil homoafetiva, foi citado. Quais os fatores que você atribui a não aprovação do mesmo?O projeto de lei em prol do reconhecimento da união civil entre pessoas do mesmo sexo foi apresentado há mais de uma década, quando o tabu era maior. De lá para cá, não vimos sua aprovação no Congresso acontecer, mas vimos que ele cumpriu um papel importante, ao colocar, de maneira corajosa e inovadora, o debate não só no Congresso Nacional, mas na sociedade. E vimos o Judiciário avançar muito desde então. Tanto que o projeto, hoje, já está até superado, em alguns pontos, por diversas decisões judiciais mais avançadas. Mas esta é uma questão importante: a votação de um projeto que consolide direitos. Acho que é preciso votar os avanços que já têm um entendimento pacífico na Justiça. A gente acaba liberando a pauta da Justiça, e confere o direito que é visto como líquido e certo à população homossexual. Você eleita, o Orçamento Participativo (OP) voltará? Nesse caso, a demanda LGBT dentro do OP, também? Em sua opinião, por que acabaram com o OP? O Orçamento Participativo foi mesmo muito importante. O nosso programa para a próxima gestão vai continuar valorizando a participação popular. Temos a questão do conselho de representantes, e os de saúde, habitação, e hoje também há ferramentas mais avançadas de comunicação virtual. Se eleita, vou retomar, com certeza, a participação popular e a demanda LGBT estará contemplada. Vamos ouvir o segmento, como fizemos no OP. Podemos evoluir em relação ao que fizemos.Para finalizar, gostaríamos que a senhora, caso eleita, nos fale como será uma prefeitura da Marta Suplicy no que diz respeito ao segmento LGBT? Aberta, transparente, acolhedora. Prometo diálogo e respeito, como foi no governo anterior, só que com mais instrumentos de participação. Juntos, vamos trabalhar contra toda forma de preconceito e discriminação e pela inclusão do segmento nos espaços da cidade, nas comunidades.


Por Marcelo Hailer 3/10/2008 - 19:14

Acessado em: 06/10/2008


CONFERÊNCIA DOS DIREITOS HUMANOS DE SANTA CATARINA


Sob o tema “Democracia, Desenvolvimento e Direitos Humanos: Superando as Desigualdades”, a 11ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos, convocado pelo Decreto Presidencial de 29 de abril de 2008, será realizada no ano de comemoração dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e representa uma oportunidade de avanço da consciência social e compromisso do Estado na proteção e promoção dos Direitos Humanos no Brasil.
A convocação tripartite desta Conferência, realizada pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados e pelo Fórum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos, representa um esforço democrático de interação dos diversos atores envolvidos na luta pelos Direitos Humanos no país.
Cada passo da elaboração da Conferência foi dada em conjunto pela Sociedade Civil e pelo Estado, em um processo de negociação revestido de tensão e acordo, como se espera da relação entre estas instância sociais. O resultado foi extremamente positivo, construindo de forma consensual as bases deste evento.
Devido à importância da revisão e atualização do Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH, este será o objetivo principal da 11ª Conferência Nacional. A partir do consenso nacional sobre a universalidade, interdependência e indivisibilidade dos Direitos Humanos a conferência tem o desafio de tratar de forma integrada as múltiplas dimensões destes direitos. Para isso as discussões serão realizadas em torno de eixos orientadores transversais.
A necessidade da realização desta Conferência Estadual em Santa Catarina dos Direitos Humanos se dá além de atender à convocação da esfera Federal para discutir democracia, desenvolvimento e Direitos Humanos. É imprescindível fazer reconhecer as demandas específicas da população Catarinense, respeitando o recorte transversal de seguimentos historicamente discriminados e/ou vulneráveis.
Um evento de tal magnitude oportuniza o encontro entre sociedade civil e a esfera pública, garantindo o protagonismo de tais grupos e movimentos com histórico de fragilidade e violação de direitos. É um momento para construção, reconstrução e avaliação de políticas públicas voltadas para a população negra (movimento negro), população indígena (organizações e movimentos indígenas) e grupos e movimentos que em razão de características pessoais (grupos LGBTT, pessoas com deficiência, pessoas idosas), características culturais/ religiosas (ciganos(as), comunidades de terreiro) ou em razão de diversos contextos sócio-histórico, territorial e econômico (quilombolas), tem maiores dificuldades de participação a direitos.
A convocação de uma conferência em Direitos Humanos é um marco em nosso Estado, ainda com tantas necessidades a serem supridas como: a falta de uma Defensoria Pública, a ausência de um Conselho Estadual de Direitos Humanos, e tantas outras que serão ouvidas da boca da própria população historicamente discriminada.
Ao se realizar em 2008, ano de comemoração do 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, lançada pela Organização das Nações Unidas (ONU) ao final da II Guerra Mundial, a 11ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos representa uma oportunidade especial de fazer avançar, no Brasil, tanto a consciência social quanto os compromissos do Estado voltados à concretização da idéia central daquele documento, indicando que livres e iguais em dignidade e direitos nascem todos os homens e todas as
mulheres.
O acúmulo histórico representado pelas dez edições anteriores desse importante processo de afirmação da democracia participativa no País já permite estabelecer, como ponto de partida de todos os debates preparatórios ao evento conclusivo de 15, 16, 17 e 18 de dezembro de 2008, um forte consenso nacional em torno da universalidade, interdependência e indivisibilidade dos direitos humanos, conforme registrado nos postulados firmados em Viena, em 1993.
Um desafio político e metodológico central no desenvolvimento desse abrangente debate democrático, em escala nacional, é tornar mais sólidas, coesas, associadas e integradas as múltiplas dimensões dos direitos humanos, quer sejam, os direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais. Daí a decisão de utilizar metodologicamente, como centro dinâmico das discussões, um conjunto de eixos orientadores – e não temas específicos – com vistas a enriquecer o debate público em torno dos direitos
humanos.

São propostos como eixos orientadores:

a) Universalizar direitos em um contexto de desigualdades;
b) Violência, segurança pública e acesso à justiça;
c) Pacto federativo e responsabilidades dos três Poderes, do Ministério
Público e da Defensoria Pública;
d) Educação e cultura em direitos humanos;
e) Interação democrática entre Estado e sociedade civil e
f) Desenvolvimento e direitos humanos.

A 11ª CNDH visa a reunir todos os atores envolvidos na organização e mobilização desse processo em torno de um objetivo principal: construir as bases para uma política pública de Estado que trate os direitos humanos de forma integrada, por meio da revisão e atualização do Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH, documento que deve se firmar, crescentemente, como orientador para as políticas públicas voltadas a assegurar o respeito, a defesa, a proteção e a promoção dos direitos humanos. Nesse sentido, a 11ª CNDH será um momento de ampliar a inserção da temática dos direitos humanos no cotidiano nacional, reforçar a inclusão de atores emergentes nessa luta histórica e atualizar os compromissos nacionais frente aos tratados e convenções internacionais firmados nos últimos anos.

HISTÓRICO

Lançada em 10 de dezembro de 1948, quando a Organização das Nações Unidas buscava firmar as bases de um programa mundial para assegurar a paz entre os países (o que só poderia acontecer quando asseguradas condições básicas de igualdade e justiça também na relação entre os segmentos sociais de cada país), a Declaração Universal dos Direitos Humanos se desdobrou posteriormente em dois grandes Pactos e pelo menos seis Convenções que passaram a ser incorporadas à legislação e aos dispositivos constitucionais dos países aderentes.
Uma constatação se impõe, no entanto: seja no Brasil, seja em quase todos os demais países do mundo, persiste uma enorme distância entre os enunciados desses instrumentos, que afirmam como imperativo o respeito aos direitos humanos, e aquilo que se observa, de fato, nos contextos concretos sempre eivados de violações, desrespeitos, discriminações, desigualdades, opressão e dominação.
No caso brasileiro, só após a promulgação da Constituição de 1988, pondo fim a um difícil e prolongado ciclo histórico de lutas sociais voltadas à superação do regime militar e direcionadas à conquista da democracia, os direitos humanos começaram a ter um marco jurídico oficial. Já em seu Artigo 1º, a Carta de 1988 inclui entre os fundamentos do Estado brasileiro a cidadania e a dignidade da pessoa humana. São ainda objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

a) a construção de uma sociedade livre, justa e solidária;
b) a garantia do desenvolvimento nacional;
c) a erradicação da pobreza e a marginalização e redução das desigualdades sociais e regionais; e
d) a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º).

A Carta considera, ainda, que a prevalência dos direitos humanos é princípio regente das relações internacionais do país (art. 4º).
O artigo 5º da Constituição Federal inicia o tratamento dos direitos e garantias fundamentais explicitando que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Os artigos 6º e 7º ampliam a concepção dos direitos humanos para além dos direitos civis e políticos e declara que são direitos sociais: a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados.
Assim, a partir do princípio da dignidade humana, a compreensão dos direitos humanos como direitos de todos está intrinsecamente relacionada ao princípio da igualdade que, ao reconhecer, respeitar e valorizar a diversidade e a diferença, também se revela como instrumento de combate à discriminação.
O processo de efetivação do princípio da igualdade – em seu sentido formal e material – contribui para realizar a inclusão social, na medida em que diminui os fatores de exclusão.
Para isso, é necessária a concretização dos direitos civis, políticos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, compreendendo a proteção, promoção, defesa e reparação às violações de direitos humanos, sendo o Estado, o indivíduo e a sociedade os atores deste processo.
As diretrizes nacionais que orientam a atuação do poder público no âmbito dos direitos humanos foram desenvolvidas a partir de 1996, ano de lançamento do primeiro Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH I. Passados mais de 10 anos do fim da ditadura, as demandas sociais da época se cristalizaram em torno da garantia dos direitos civis e políticos.
O programa foi revisado e atualizado em 2002, com o lançamento do PNDH II. Em função das demandas inspiradas nos movimentos sociais emergentes, essa atualização incorporou os direitos econômicos, sociais e culturais desde a perspectiva de universalidade, indivisibilidade e interdependência, expressa na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e na Convenção e Programa de Ação de Viena (1993).
As proposições dos PNDH I e II pretenderam orientar a concretização e promoção dos direitos humanos no Brasil pela via política, jurídica, econômica, social e cultural. Baseado em princípios estabelecidos nos tratados internacionais de direitos humanos, o PNDH significa uma iniciativa conjugada de governo e sociedade civil de realizar a orientação democrática prevista na Constituição.
Após 12 anos desde sua primeira edição, o Programa Nacional de Direitos Humanos carece de cuidadosa revisão e atualização, de avaliar o que se tem, o que foi feito e o que deve passar a ser incorporado como desafio. É tempo de avaliar e legitimar prioridades, de conhecer e reconhecer novos e tradicionais agentes atuantes nos direitos humanos, a dinâmica das interações entre esses atores e os atuais espaços de participação, construção democrática e monitoramento da Política Nacional de Direitos Humanos no país. Também é necessário incluir aqueles pertencentes a grupos historicamente sujeitos a violações de direitos humanos, ainda que não articulados em movimentos organizados.
A 11ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos foi convocada por um decreto do presidente da República, sendo uma realização conjunta da sociedade civil e do poder público, representado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República – SEDH/PR e pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.
A Conferência se desenvolve num cenário nacional em que é estimulada amplamente a participação direta da cidadania na formulação das políticas públicas de âmbito federal e de uma boa parcela dos entes federados. Longe de significar um sinal de “descansar” para a aguerrida militância histórica dos direitos humanos e dos atores que emergiram nas últimas décadas, dentre eles, crianças e adolescentes, idosos, pessoas com deficiência, o segmento LGBT, etc. Os avanços já garantidos devem ser interpretados como alento para a definição de novas exigências. Nessa dialética, os passos já dados valem, basicamente, como início de uma longa caminhada para se atingir um patamar aceitável de concretização do respeito aos direitos humanos no Brasil, país que ainda é palco cotidiano de intoleráveis e persistentes violações.
O objetivo central da 11ª Conferência será, portanto, contribuir para o fortalecimento de uma Política Nacional de Direitos Humanos que sirva como base para uma Política do Estado brasileiro, por meio da revisão e atualização do Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH. O contexto de elaboração do novo PNDH caracteriza-se pela reflexão e definição de rumo a ser buscado em conjunto pelo governo e pela sociedade civil, numa interação democrática que tanto pressupõe diálogo e parcerias quanto tensionamentos, fiscalização crítica, cobranças e pressão popular. O fortalecimento dos movimentos sociais e de suas pautas, associado ao desenvolvimento institucional dos direitos humanos pelos governos federal, distrital, estaduais e municipais, faz com que o país disponha hoje de acúmulo significativo na implementação de experiências nestas esferas e abertura para diálogo.
Neste sentido, é importante resgatar o histórico das Conferências Nacionais já
realizadas, fundamentais para a consolidação dos direitos humanos no Brasil e evolução do processo de elaboração de políticas públicas na área (ver box abaixo).
A Conferência Nacional dos Direitos Humanos tem sido, desde 1996, um espaço solidário, democrático e pluralista de definição de estratégias para a promoção e proteção dos direitos humanos no Brasil, além de poderoso instrumento de integração nacional e internacional no cumprimento desses objetivos. Inicialmente, a organização das Conferências contou com o protagonismo da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados e das organizações da sociedade que posteriormente se articularam no Fórum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos (FENDH). A Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República tem participado como instituição do Poder Executivo responsável pelo setor, inicialmente como convidada e gradativamente como parceira na promoção das conferências. Na 9ª edição, participou também da convocação. Atualmente, além de convocar a 11ª Conferência, é membro de sua Coordenação Executiva.
Ao longo de dez edições, a Conferência consolidou-se como um encontro aberto dos variados atores no âmbito dos direitos humanos, quer atuantes nas instituições do Estado, quer nas organizações da sociedade civil.

Histórico das Conferências Nacionais dos Direitos Humanos

A 1ª Conferência Nacional de Direitos Humanos, realizada em 1996, foi um momentochave do processo de elaboração do PNDH, atendendo ao compromisso assumido pelo Brasil na Conferência de Viena, em 1993. Durante a 1ª Conferência, foram acolhidas uma série de propostas emergentes de debates prévios organizados por regiões e setores de atividade. Parte das propostas da 1ª Conferência foi incorporada pelo PNDH e outras se converteram em referências para seu posterior aperfeiçoamento.
A 2ª Conferência, em 1997, avaliou a aplicabilidade do PNDH e levantou novas propostas para complementá-lo. Críticas sobre a falta de implementação do PNDH foram expostas, ao lado de sugestões para preencher lacunas deixadas pela redação original.
A avaliação crítica da 2ª Conferência pressionou o Poder Executivo a atuar mais intensamente na implementação do PNDH e o Congresso Nacional a apreciar projetos da área. Na época, também foram criados Programas Estaduais de Direitos Humanos e a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, então ligada ao Ministério da Justiça.
A 3ª Conferência foi realizada durante as comemorações do cinqüentenário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1998, e impulsionou a integração do Brasil na jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos, debatendo a participação do país no Sistema Interamericano de proteção dos direitos humanos. Esta Conferência refletiu sobre a atualidade e aplicabilidade da Declaração Universal dos Direitos Humanos, além de estimular a disseminação e fortalecimento de organismos de direitos humanos municipais, estaduais e distrital, no interior de órgãos do poder público e em entidades da sociedade civil.
Em janeiro de 1999, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos passou a ser denominada Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, com assento nas reuniões ministeriais.
A 4ª Conferência Nacional de Direitos Humanos, em 1999, aperfeiçoou seus próprios mecanismos de funcionamento, visando obter mais eficácia e visibilidade nos resultados.
Resultou disso a criação de uma comissão permanente para coordenar deliberações do encontro, como a elaboração do Relatório da sociedade civil sobre o cumprimento, pelo Brasil, do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), além de planejar as edições seguintes das conferências.
A 5ª Conferência, sintonizada com a realidade brasileira e com a campanha da
ONU do ano 2000 pela paz, concentrou-se no debate sobre a violência, desde sua expressão doméstica até a institucional, além de suas relações com a exclusão, a discriminação e o preconceito. O lema “Brasil 500 anos: descubra os direitos humanos”, ensejou a avaliação das violações sistemáticas ao longo dos cinco séculos passados. O tema do combate à tortura foi priorizado com a criação da Rede Brasileira Contra a Tortura e de uma campanha nacional pela abolição dessa prática no país.
A 6ª Conferência, em 2001, lançou a Campanha Nacional Contra a Impunidade, que contribuiu para pautar e aprovar a legislação que acabou com a imunidade parlamentar em crimes comuns. Estimulou o engajamento na preparação da Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação, Xenofobia e outras Formas de Intolerância. Defendeu a construção de um Sistema Nacional de Direitos Humanos independente, pluralista e com capacidade investigatória. Cobrou do Poder Executivo efetiva implementação do Programa Nacional de Direitos Humanos, bem como sua atualização em termos de conteúdo, planejamento e cronograma de implantação. Exigiu maior transparência do governo na produção dos relatórios aos organismos internacionais de monitoramento e ratificação dos novos atos internacionais destinados ao aperfeiçoamento e democratização do acesso às instâncias regional e global de proteção dos direitos humanos. Reivindicou maior divulgação do papel das instituições financeiras e comerciais internacionais.
A 7ª Conferência, em 2002, abordou a relação entre pobreza e criminalidade. Com o slogan “Prevenção e combate à violência”, analisou os efeitos das desigualdades sociais, a cultura da violência, o crime organizado, a posse e o tráfico das drogas e armas. Também formulou proposta de criação de sistema nacional de proteção às vítimas da violência.
Sugeriu que o avanço na implementação dos direitos humanos em todas as esferas da administração é uma forma eficiente de combate à criminalidade, em oposição à crença de que o emprego da violência pelo Estado pode acabar com esse problema, bem como a falácia de medidas como a redução da idade penal, endurecimento das condições carcerárias, penas perpétua e de morte.
Em 2003, a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos ganhou o status de ecretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, ampliando atribuições para a gestão de políticas de direitos humanos. Entre as competências da SEDH estão: a assessoria ao Presidente da República na formulação de políticas e diretrizes voltadas à promoção dos direitos humanos; a coordenação da Política Nacional de Direitos Humanos em conformidade com as diretrizes do Programa Nacional de Diretos Humanos - PNDH; a articulação de iniciativas e o apoio a projetos voltados para a proteção e promoção dos direitos humanos em âmbito nacional; o exercício das funções de ouvidoria-geral em direitos humanos, entre outras atribuições.
A 8ª Conferência, em 2003, focou-se na formulação de uma proposta de sistema nacional de proteção dos direitos humanos. O encontro procurou sensibilizar Estado e sociedade para a necessidade de adoção de mecanismos capazes de enfrentar de forma integrada todas as dimensões das violações de direitos. Foram sugeridas a adoção de mecanismos de monitoramento do sistema, com ampla participação social, e a promoção de políticas públicas na educação formal e informal em direitos humanos. O documento final defendeu a prevalência dos direitos humanos face aos ajustes macroeconômicos em curso, bem como a qualificação das ações de proteção dos direitos humanos no campo da política de segurança pública e da segurança alimentar. Cobraram-se ainda avanços na implementação do sistema único de segurança pública, de modo a harmonizálo com as políticas e princípios dos direitos humanos. Nesta Conferência o Poder Executivo federal apresentou, por intermédio do Secretário Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, a proposta de integrar-se ao conjunto das entidades organizadoras e convocadoras da Conferência Nacional, ajudando, com isso, que a edição nacional fosse precedida de conferências estaduais.
A 9ª Conferência, realizada em 2004, foi a primeira a ter o Poder Executivo na comissão que convocou os trabalhos. Também ocorreu uma mudança institucional: foi a primeira vez que se elegeram delegados(as) a partir de conferências estaduais e distrital prévias. A 9ª Conferência deu continuidade ao debate prioritário da oitava edição, sobre a construção do sistema nacional para o setor. O documento final analisou a situação dos direitos humanos no país, seus atores e as violações a serem combatidas. Em sua plenária final foi também aprovada alteração no calendário das conferências estaduais e distrital, que passaram, a partir de então, a ser realizadas a cada dois anos, sendo que, nos anos ímpares, seriam realizados encontros nacionais de direitos humanos, de proporções mais reduzidas, voltados ao aprofundamento de temas centrais para o processo de afirmação e consolidação dos direitos humanos no Brasil.
Na 10ª Conferência, ocorrida em 2006, foi retomada a prática anterior à nona edição, com o encontro sendo promovido em conjunto pelas comissões legislativas, entidades da sociedade civil, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão e a SEDH/PR. O temário incorporou tópicos recentes no âmbito dos direitos humanos, considerando a transversalidade entre segmentos organizados. Painéis abordaram, entre outros temas, as relações entre o modelo econômico e os direitos humanos; racismo e violência; situação dos direitos indígenas; criminalização dos defensores de direitos humanos e movimentos sociais; educação para direitos humanos; exigibilidade dos direitos humanos econômicos, sociais, culturais e ambientais. Além desses painéis temáticos, um painel ateve-se na avaliação do PNDH, do Sistema Nacional de Direitos Humanos e da tramitação do projeto que transforma o atual Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana em Conselho Nacional de Direitos Humanos, entre outras proposições legislativas. O documento final denunciou as violações contra defensores de direitos humanos.



Mais Informações no endereço: http://www.ssp.sc.gov.br/
Data a ser realizada: 15 à 17 de setembro de 2008.
Local: Florianópolis