Alexandre Youssef é candidato a deputado federal pelo PV (Partido Verde). Com ampla experiência em ações para a cultura, o paulistano é promessa de renovação no cenário político nacional.
Nesta entrevista, Ale, que é um dos donos do prestigiado Studio SP, palco de lançamento de novas bandas, e criador, ao lado de Hermano Vianna, Ronaldo Lemos e Zé Marcelo Zacchi, do site cultural "Overmundo", explica que uma de suas principais bandeiras é a transparência e diz que é a favor não apenas da união civil, mas também do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Se depender do seu currículo, Ale Youssef não terá dificuldades para colocar em prática todas as suas ideias: atual colunista da revista "Trip", Ale dirigiu, em 2001, a implementação da Coordenadoria Especial de Juventude da Prefeitura de São Paulo e, em 2004, a campanha de Soninha Francine à Câmara Municipal.
Confira abaixo o que pensa o candidato sobre sua afiliação ao PV, casamento gay, Paradas LGBT, entre outros assuntos.
Por que você deixou o PT e se afiliou ao PV?
Não foi uma mudança drástica e imediata. Antes de entrar no PV, fiquei um bom tempo fora da política, me dedicando aos meus projetos culturais como Studio SP e o Overmundo. Saí do PT, pois achei que o partido estava envelhecendo. A manutenção do poder virou o objetivo numero um, e com isso vieram alianças complicadas e um pragmatismo que me assustou. Não via mais a leveza da política pelo ideal e a beleza da militância que tanto me cativaram desde minha adolescência. Ainda tenho muitos amigos no PT e sei que tem gente muito bem intencionada no partido, mas infelizmente a prática política não faz mais minha cabeça. Entrei no PV estimulado pelo Gabeira, político que gosto muito desde os tempos do PT e também pela Marina Silva. A possibilidade de ingressar em uma estrutura pequena, mas cheia de espaço pra atuar, sem os vícios de um grande partido, com a bandeira moderna do desenvolvimento sustentável e com muita gente nova querendo atuar em busca de uma nova política, foram marcantes na minha escolha.
A candidata à Presidência do seu partido, Marina Silva, ainda não tem uma postura muito clara sobre a união civil e adoção por casais do mesmo sexo. Qual é a sua opinião a respeito?
Sou a favor não só da união civil, como sou 100% favorável ao direito ao casamento. Também sou totalmente a favor do direito à adoção e pretendo na minha campanha defender essas posições.
Quais são as suas propostas para a comunidade LGBT?
Primeiro, quero ser um representante que não foge da raia, ou seja, não tem medo de assumir suas convicções. Muitos políticos dizem apoiar a causa, mas chegam no período eleitoral e somem com medo de perder os votos dos conservadores. Precisamos atuar para que o Estatuto da Família, em trâmite no Congresso evolua. Temos que garantir que o texto que prevê a união civil e o direito à adoção seja mantido e votado. Pretendo criar uma série de ações de transparência no mandato (transmissão via web de tudo que rola, site colaborativo, escritório aberto no Baixo Augusta) que vão aumentar muito a participação de todos no processo legislativo. Dessa forma, pretendo estabelecer vínculos fortes com a sociedade civil que quer mudanças. Precisamos trazer pra dentro do Congresso o potencial de mobilização que o público LGBT demonstra nas Paradas. Além disso, precisamos articular formadores de opinião, para que possamos quebrar resistências. Algumas experiências internacionais, de países com características parecidas com as nossas, como a de Portugal, por exemplo, devem ser levadas em conta e divulgadas.
Sua campanha investirá em ações específicas para os homossexuais?
Sim. Pretendo fazer um grande debate no Studio SP, transmitido por streaming, sobre o direito ao casamento e à adoção. Já tem muita gente mobilizada e me ajudando, como o André Fischer do Mix Brasil, grande amigo e parceiro de muitos projetos e também o Douglas do Casarão Brasil, que recentemente declarou seu apoio à minha candidatura. Minha ideia é investir no conteúdo, ou seja, juntar na campanha, o máximo de informações para chegar no Congresso amparado por propostas concretas e viáveis e também pelo apoio da inteligência social que conhece e apoia o tema. Além disso, todos os materiais da minha campanha abordam os temas em questão. Como disse antes, escancarando minhas convicções. Acho que essa é a melhor maneira de atuar: juntando grandes questões da nossa geração e as transformado em uma mesma bandeira. Precisamos ter cabeça aberta para o novo.
Qual é a sua opinião sobre as Paradas Gays?
Gosto muito das Paradas. Fui em quase todas as de São Paulo. Quando era coodenador de Juventude da Prefeitura, organizei durante alguns anos um trio da cidade, em parceria com o Mix Brasil, que divulgava o MIX JOVEM, projeto muito bonito de combate ao preconceito que implantamos nas escolas públicas naquela época. Participei ativamente do apoio para que as Paradas pudessem crescer e se desenvolver. Só acho que as Paradas não podem abrir mão do brilho e da festa. Nos últimos anos senti falta dos trios de clubes e sites na Parada. Acredito na mescla da militância e da festa para termos uma verdadeira manifestação brasileira. Uma ação ousada seria direcionar todas as paradas do país para o Congresso Nacional, para pressionar pela aprovação da criminalização da homofobia e pelos direitos ao casamento e adoção.
Além disso, a Parada Gay virou um dos melhores exemplos para outra bandeira que defendo: a da economia criativa. Houve um tempo em que cogitaram tirar a Parada da avenida Paulista, assim como fizeram com a Marcha para Jesus. O setor hoteleiro e de serviços da cidade foram contra, pois demonstraram que a Parada era muito importante do ponto de vista econômico para a cidade. Apoio a valorização da arte, moda, música, noite e todas as áreas criativas, como estratégicas para nosso país. O argumento econômico deixou a parada na Paulista e pode ser usado para apoio à cultura também a questões comportamentais.
Você é jovem e desde cedo é interessado por política. O que mais te atrai nessa profissão?
Acho que é uma questão de vocação. A política sempre fez parte da minha vida. Na escola como representante de classe, na Faculdade como Presidente do Centro Acadêmico, como assessor da campanha do Betinho de combate à fome e depois nas experiências de governo, especialmente como Coordenador de Juventude da gestão Marta. Mesmo nas minhas atividades privadas o aspecto público sempre esteve presente: no Studio SP, plataforma de lançamento de novas bandas, no Ovemundo, espaço de difusão da nossa cultura e na minha coluna da Trip. Me atrai a ideia de transformação e de realização de projetos públicos. A política é o caminho para isso. Apesar de tudo de errado que vemos, precisamos ter estômago para ocupar os espaços de poder e fazer o que precisa ser feito. Nossa geração está chegando ao poder na mídia, nas agências, nos tribunais, nas empresas etc, mas não tem representação na esfera pública! Isso é um estímulo.
No âmbito federal, o PLC 122 está parado no Congresso. Você acredita que, se eleito, é possível pressionar por sua aprovação?
Claro! Primeiro porque serei mais um deputado totalmente a favor do projeto. Além disso, pretendo, como disse, criar mecanismos de controle e participação social no mandato para que possamos impulsionar projetos e combater os conservadores de plantão. Acho que devemos divulgar muito mais do que está sendo feito, quem é contra o PLC 122. Na Parada desse ano, por exemplo, seria legal terem colocado grandes painéis com as fotos e nomes de todos que se opõe. Esse tipo de ação precisa ser respaldada dentro do Congresso. Quem é contra precisa saber que não vai ser moleza, que tem gente ali de olho e pronto pra atacar posições homofóbicas.
Na sua opinião, quais são as ações mais urgentes envolvendo a comunidade LGBT no país?
Mobilização e foco da comunidade em torno de temas importantes como o PLC 122 e os direitos ao casamento e adoção. Temos que criar uma agenda em torno dessas três bandeiras. Ação legislativa, debates, divulgação de experiências internacionais, campanhas de opinião que juntem diversos setores da sociedade etc.
Você teme perder votos por estar aliado à candidata Marina Silva, pelo fato de ela ser evangélica?
Não. Marina já se posicionou a favor da união civil e demonstrou ter consciência e concordância total do Estado laico, ou seja, que as decisões de governo não passam por posicionamentos religiosos. Além disso, acho que minha trajetória e meus posicionamentos claros sobre os temas que defendo como o casamento e a adoção, a regulação das drogas, a descriminalizacão do aborto, a transparência radical e a economia criativa me credenciam para o voto de opinião de pessoas que pensam como eu, independente de qualquer outra opinião dada. Eu serei um deputado e terei conexão direta com quem quiser interagir com o mandato e defender essas ideias.
É possível pensar em uma nova forma de se fazer política no Brasil, livre de conchavos e da corrupção?
Sim. Precisamos lutar pela transparência radical da atividade pública. Por isso quero dar um exemplo com um mandato 100% transparente, onde câmeras nos gabinetes, corredores, reuniões, possam transmitir tudo que eu faço, falo e que um site colaborativo possa dar acesso à composicão das ações do mandato e aos projetos de lei. Além disso, a ideia de ter um escritório aberto, onde funcionariam as redações dessa TV e desse site do mandato, mas que todos pudessem ver, interagir, participar, visitar, também ajuda muito na integração entre as pessoas e o político que as representa. Acredito que uma ação dessa possa ser um choque na prática política. Acho que esse tipo de postura transparente será inevitável no futuro. Vamos apressar isso. É possível fazer um pacto programático, em torno de temas que sejam prioritários. A internet e a sociedade em rede jogarão um papel decisivo nisso.
Por Paco Llistó 12/7/2010 - 12:54
Fonte: ACAPA